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Audiência aprofundou debate sobre privatização da Petrobras em Sergipe

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A privatização da Petrobras avançou a passos largos no governo Bolsonaro. E a região Nordeste foi a principal prejudicada com o desmonte da empresa, deixando um rastro de desemprego e desinvestimento na região. Sergipe, por exemplo, sofreu a perda de 42% dos empregos que eram gerados pela estatal. Já o Nordeste amargou uma queda de 74% dos empregos que foram criados - entre 2014 e 2020 - pela empresa. Além disso, houve uma drástica diminuição do faturamento junto à queda da produção.

Em 2011, a Petrobras em Sergipe produzia, em média, 60 mil barris de petróleo e gás por dia. A última produção registrada no Estado, no mês de maio de 2022, foi de 6,7 mil barris diários. Assim o desmonte da Petrobras gerou mais desemprego no Estado, queda de arrecadação e redução dos royalties decorrente da queda de produção da Petrobras.

Na manhã do último dia 14, toda essa história foi passada a limpo durante a audiência pública ‘A Privatização da Petrobras e seus Impactos em Sergipe’, promovida pela Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e Amazônia (Cindra), da Câmara dos Deputados. A audiência aconteceu de forma presencial na sede do Sindicato dos Urbanitários de Sergipe (Sindisan), em Aracaju, e também foi transmitida ao vivo pelo Zoom e pelo Youtube.

Conforme dados apresentados pela economista do Dieese, Flávia Santana, no governo Bolsonaro aconteceu a maior venda de ativos da Petrobras da história do Brasil. “Em 2020, a Petrobras anunciou o fim da produção marítima de petróleo e gás no Estado. Então começamos a ter esta beira de participação na produção nacional. Com a saída completa da Petrobras do estado e a paralisação da produção das plataformas, o número de trabalhadores em Sergipe pode estar perto de zero”, acrescentou a economista do Dieese.

Vingança contra o Nordeste

Após o golpe contra a democracia em 2016, o Nordeste todo perdeu participação na produção nacional. Não foi um caso isolado o que aconteceu em Sergipe. Em 2010, o Nordeste representava 10,5% da produção nacional e em maio de 2022, a participação do Nordeste se resumia em apenas 2,8% na produção nacional da Petrobras. Para o petroleiro da Bahia e dirigente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, o desmonte da Petrobras no Nordeste foi a vingança do governo Bolsonaro contra a população nordestina, que não o escolheu como presidente nas eleições de 2018.

“A saída da Petrobras do Nordeste gerou muito prejuízo para a economia local. Só a perda de massa salarial gerou um impacto muito negativo para o Nordeste. Em estados como Sergipe, Ceará e Rio Grande do Norte, a privatização já foi completamente consolidada. Inúmeros campos de produção foram vendidos e hoje temos a atuação de empresas privadas no campo de petróleo que já estão negociando com nossos sindicatos. É óbvio que isso impacta o desenvolvimento social dos nossos estados. Através do Consórcio Nordeste conseguimos minimizar os efeitos drásticos da vingança de Bolsonaro contra a região”, analisou o petroleiro.

Bacelar questionou: diante da entrega do patrimônio nacional de mão beijada à iniciativa privada, qual foi a contrapartida do governo? “Quais investimentos foram feitos na região Nordeste? Qual foi a contrapartida que tivemos? Nada. A gestão bolsonarista da Petrobras sucateou os campos e o que temos está produzindo menos. Teremos um trabalho hercúleo pela frente que exige unidade da esquerda para resgatarmos esta Petrobras do passado que o Brasil constrói desde Getúlio Vargas”, declarou o sindicalista.

Ainda no governo Bolsonaro, o dirigente da FUP destacou a importância do deputado federal João Daniel (PT) e da Cindra na luta que conseguiu anular a venda da Petrobras Biocombustíveis.

A Petrobras nasceu no Nordeste

Representando o Ineep, Rodrigo Leão destacou que a história da Petrobras começou no Nordeste, pois foi na Bahia, na década de 1930, que foi montado o primeiro complexo industrial de produção de petróleo. “A Bahia foi o embrião da Petrobras. Assim podemos dizer que a Petrobras nasce como uma empresa nordestina. O que podemos ver nos últimos anos de forma acentuada é a perda do protagonismo da Petrobras e com isso, quem mais sofre é o Nordeste”, afirmou Rodrigo.

Rodrigo Leão observou que o potencial de produção de energias renováveis no Nordeste é promissor, estava em pleno desenvolvimento, mas com o desmonte da Petrobras no Nordeste, nada foi adiante.

“A Petrobras abriu mão do protagonismo da produção de energias renováveis no Nordeste, mas a iniciativa privada não abriu mão. A Shell, por exemplo, está desenvolvendo usinas de energia solar no Nordeste brasileiro e a Petrobras não. Como pode termos um órgão regulatório para obrigar a Petrobras a sair de um segmento para abrir espaço para a iniciativa privada?”, criticou Rodrigo Leão.

Vontade política

Rosildo Silva, engenheiro de Petróleo e ex-gerente da Fafen, afirmou que a produtividade alta da Petrobras em 2010 resultou da vontade política. “Aqui sempre ouvíamos o discurso: ‘o Brasil não tem petróleo’ ou ‘o brasileiro não é capacitado para lidar com a produção’. E vimos nos governos do PT Lula, Dilma e José Eduardo Dutra, com vontade política, transformar a Petrobras na 5ª maior empresa de produção de petróleo do mundo. Por isso tentaram derrubar Lula em 2005 inventando o mensalão e não desistiram. Continuaram tramando até o golpe de 2016. Eles nunca aceitaram a Petrobras crescendo do jeito que ela estava. Os mandantes do mundo continuam agindo de forma direta e indireta. Quando a soberania nacional do Brasil está fraca, é o nosso caso atual, perdemos patrimônio”, criticou Rosildo.

Entre outros pontos, o professor Rosildo historiou, com fartos dados técnicos, a saga da Petrobras e da Fafen em nossa região. Bergson da Silva, dirigente do Sindipetro Sergipe/Alagoas, falou sobre a realidade atual enfrentada pelos petroleiros em Sergipe.

“O campo de produção de Carmópolis está parado há 4 meses. Enviamos ofício para saber por que está parada a produção do campo, precisamos dessas informações. Sabemos que existem problemas no sistema de combate a incêndio, a prevenção tem falhas. Um pouco antes de chegar nesse ponto, a empresa começou a terceirizar tudo. Estamos com esta preocupação, às vésperas de passar para uma empresa privada. Muitos trabalhadores têm medo de serem demitidos. E é a vida do trabalhador que está em risco neste momento”, afirmou o dirigente sindical.

Jairo de Jesus, secretário geral da CUT e vice-presidente do SINDTIC/SE, defendeu a unidade do movimento sindical em prol do retorno das atividades da Petrobras como empresa estatal e não como empresa privatizada. “As organizações são inevitáveis e muito importantes no nosso dia-a-dia pelos impactos que causam nos indivíduos, nas comunidades, nas demais organizações e na própria sociedade. E isto, independente do tipo de propriedade, se é pública ou se é privada, quando a organização não está produzindo o esperado, isso não acontece por causa da propriedade, mas devido à má gestão, portanto para melhorar os resultados, é preciso melhorar a gestão e não mudar a propriedade. Os argumentos da privatização escondem interesses outros”, explicou Jairo.

O diretor da CUT/SE, Jairo de Jesus, denunciou que já chega a quase 60% dos ativos da Petrobras privatizados.
“É um processo silencioso que põe em risco a soberania nacional. Vamos alertar para o que Flávia (Dieese) colocou aqui: quem está comprando nossas empresas públicas? Outras empresas públicas de diferentes países. Foi assim que aconteceu com a telefonia e é assim que está acontecendo com o nosso petróleo. Isso derruba o discurso de que tem que privatizar porque o estado é mau gestor”, acrescentou Jairo.

O sindicalista ainda chamou a atenção para a luta do senador Rogério Carvalho contra a privatização da Petrobras e seus efeitos sobre a nossa economia ao aprovar requerimento convocando o ministro da pasta e o presidente da Petrobras para explicarem as “razões” da saída da empresa de Sergipe e do Nordeste; para as insistentes e necessárias participações na mídia do ex-presidente da estatal Sérgio Gabrieli demonstrando o processo de fatiamento dos ativos da Petrobras e a venda a fundos financeiros, servindo tão somente para ampliar os valores dos dividendos pagos aos acionistas, especialmente os privados.

Por fim Jairo destacou a recente entrevista do ex-presidente Lula que afirmou ser categoricamente contra a privatização da Petrobras. porque se constitui numa ameaça à segurança energética do país e irá aumentar o preço dos combustíveis”.

A audiência pública também contou com a presença do presidente da CUT/SE, Roberto Silva, do deputado federal, João Daniel, que integra a Cindra na Câmara Federal e dos ex-presidentes da CUT/SE, Edmilson e professor Dudu, dos petroleiros Sidney, Pedrão (Sindipetro), Antônio Cruz e Marivaldo (Petroleiros).


Fonte: CUT Sergipe