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Músicos de Sergipe são explorados por políticos nos festejos de São João

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Sindmuse denuncia políticos de Sergipe por se aproveitar dos artistas e pagar cachês miseráveis justamente aos músicos empobrecidos após dois anos de pandemia

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O começo das festas de São João em Sergipe trazia a expectativa de muita alegria, não só para a população que ama o forró, xote e o baião, como para os músicos e artistas sergipanos que conquistam a maior parte de sua renda anual no período junino. Mas a realidade da programação das festas na capital e no interior do Estado trouxe o amargo sabor de desilusão para a maioria dos músicos e sanfoneiros de Sergipe.

O São João na Praça, promovido pela Fecomércio com apoio da Prefeitura de Aracaju, está pagando um cachê humilhante para os músicos sergipanos. O Sindicato dos Músicos Profissionais de Sergipe (Sindimuse), filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT Sergipe), denunciou que cada trio de Pé de Serra está recebendo R$ 500 para se apresentar.

O presidente do Sindimuse, Tonico Saraiva, afirmou que a mesma situação humilhante ocorreu no Natal Iluminado, também promovido pela Fecomércio. “O nosso sindicato não aceita essa atitude rasteira de políticos que destroem o forró sergipano humilhando nossos músicos. O presidente da Fecomércio e deputado federal Laércio Oliveira se promove nesses eventos. Essas pessoas pensam que os músicos profissionais vivem de quê?”, criticou Tonico.

Tonico explica que pagar R$ 500 por trio pé de serra significa menos de R$ 150 para cada profissional da música. “Estamos sobrevivendo a uma inflação de dois dígitos. Está tudo caro, o músico não tem como sobreviver assim, recebendo valor tão rebaixado”, enfatizou.

Como muitos músicos de Sergipe, o presidente do Sindimuse, Tonico Saraiva, tinha esperança de que o São João após a pandemia ia garantir condições para os músicos, sanfoneiros, zabumbeiros e triangleiro de Sergipe se recuperarem da situação de fome e miséria que enfrentaram, sobrevivendo da ajuda de familiares durante a pandemia da Covid-19. 

Após dois anos sem casas de show, sem Barzinho, sem São João e sem Carnaval, os músicos de Sergipe são obrigados a aceitar cachês miseráveis, além de serem excluídos pela Prefeitura de Aracaju do palco do Forró Caju. Segundo Tonico Saraiva, em qualquer lugar de Sergipe, um sanfoneiro cobra R$ 400 para tocar no máximo duas horas, um zabumbeiro e um triangleiro cobram R$ 300,00 cada um.

“Tem despesas com transporte, ensaios, alimentação, nota fiscal, telefone... É impossível um dono de trio pé de serra tocar por R$ 500,00. É revoltante ver políticos contratando 80 trios de pé de serra para pagar o cachê de R$ 500,00 por trio. Isso é humilhar o artista de Sergipe. Qualquer artista, seja banda, grupo ou trio pé de se, precisa de equipe técnica operacional, como operador de áudio e técnico iluminador”, afirmou Tonico.

Segundo o presidente do Sindimuse, o preço de mercado cobrado por cada artista precisa ser respeitado. “Não podemos deixar que joguem fora as nossas conquistas. Lutamos por um cachê valorizado. A Prefeitura de Aracaju e a Fecomércio tinham condições de fazer uma festa de São João para movimentar a economia sergipana, respeitando e valorizando os músicos de Sergipe, mas decidiram fazer o contrário”, criticou Tonico.


Desvalorização


Segundo Tonico Saraiva, mesmo as festas juninas nos bairros de Aracaju, custeadas pelos próprios moradores de cada rua, costumam render em média entre R$ 3 mil e R$ 4 mil para cada grupo contratado.

“Não é falta de dinheiro, é falta de valorização mesmo. Era a hora dos prefeitos fazerem algo pelos músicos de Sergipe, pois, durante a pandemia, eles não fizeram nada. A prefeita de Capela, Silvany Sukita, anunciou Bel Marques - que custa um cachê milionário - pra tocar nos festejos juninos de Capela. Vem Aviões do Forró tocando em vários municípios por R$ 350 mil. Somando todas essas atrações com os artistas de fora, dá mais de R$ 5 milhões. Não somos contra os artistas de fora de Sergipe, mas primeiro os de casa. É São João, não podemos ficar excluídos da programação”, reforçou Tonico.

Como se não bastasse o cachê rebaixado e a exclusão na programação de muitas festas, o Sindmuse também denuncia casos de perseguição contra músicos sergipanos.

"É triste ver a programação do Forró Caju, na capital, com tantos artistas de fora. E o secretário Luciano Correia, insensível à realidade dos músicos sobreviventes de Sergipe, achou pouco e entrou com um processo judicial contra o forrozeiro Alberto Marcelino pedindo R$ 5 mil de indenização. Como eu cobro respeito aos músicos de Sergipe, minha banda também foi sabotada e não consigo contrato para tocar”, revelou Tonico.

O músico e sindicalista afirma que os profissionais da arte oprimidos por esta política de ‘desincentivo’ à cultura têm direito de se expressar. “Os políticos de Sergipe querem que o músico sofra e fique calado. Mas nós vamos falar a verdade. Vamos denunciar o que estamos passando. Este é o papel do sindicato e o Sindimuse não foge à luta. Com tanta perseguição, como a música de Sergipe vai conseguir sobreviver?”, questionou Tonico Saraiva.

A CUT Sergipe está à disposição dos músicos profissionais organizados no Sindmuse na luta por valorização e respeito à música sergipana.



Fonte: CUT Sergipe