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Não é hora de retorno das atividades presenciais, alerta professor da UFS

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Teletrabalho2 parte interna

Modelo de trabalho adotado pelos mais diferentes órgãos públicos e empresas nesse período de isolamento social, o teletrabalho já estava em crescimento no Brasil antes mesmo da pandemia da covid-19.

Um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em dezembro do ano passado, demonstrou que aproximadamente quatro milhões de brasileiros já trabalhavam em home office. Excluídos os servidores públicos e trabalhadoras domésticas, isso correspondia a mais de 5% dos trabalhadores com emprego no país.

Para o professor do Departamento de História e do Mestrado em Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe, Lucas Pinheiro, a adoção do teletrabalho não pode prescindir de cuidados que levem em conta as desigualdades na relação entre as pessoas e as tecnologias. “Não podemos desconsiderar que há diferenças de instrumentação para o teletrabalho, nem todos têm as mesmas condições estruturais e de recursos tecnológicos e existe também um contingente de servidoras que estando em casa, e por uma questão cultural, são absorvidas pelas tarefas domésticas”.

De acordo com Lucas, que participa de discussões e formulações sobre trabalho a distância na UFS, “a expectativa de começar a trabalhar presencialmente com alguma segurança é apenas em setembro, outubro, novembro, e há quem diga que talvez só em meados do próximo ano”.

Por isso, apesar das pressões de órgãos públicos para que se retornem as atividades presenciais, ele destaca que “é hora de colocar a mão na consciência e pensar se esse momento excepcional comporta nossas cobranças de cronograma, por exemplo”.

O professor da UFS enfatiza que o momento atual “exige uma parada para que se tenha dimensão da gravidade, dos perigos e das responsabilidades de quando a gente for retomar”, sendo preciso, em sua opinião, “fazer um diagnóstico e considerar todas as variáveis, onde foi que paramos e a partir de onde precisaremos retomar”.

No entendimento de Lucas Pinheiro, o cenário da pandemia escancara a essência do regime capitalista de exploração do trabalho, que tem como consequência o aprofundamento de assimetrias e desigualdades. “A dinâmica de superexploração vem causando alguns colapsos, que refletem em aumento da violência, da criminalidade e das atividades ilícitas. O que temos visto é a intensificação dos conflitos, o aumento da miséria e da exclusão, que geram mais violência e maior controle do Estado. E aí vira um círculo vicioso de eliminação arbitrária do cidadão supostamente em desvio e uma sociedade que, não cuidando dessas incongruências, precisa cada vez mais de policiamento e uso de violência”, argumenta.