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Novo desembargador diz ser inimigo de servidor do TJSE

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Postura do novo desembargador preocupa entidade e categoria

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O que seria uma despedida descontraída entre colegas de trabalho acabou se tornando uma cena lamentável. No último dia 27 de maio, o mais novo desembargador do Tribunal de Justiça de Sergipe (TJSE), Gílson Félix, afirmou que o técnico judiciário Lucas Oliva teria, nele, um inimigo. O fato aconteceu no Cartório da 19ª Vara Cível de Aracaju, no Fóruns Integrados II, bairro 18 do Forte, onde está lotado o servidor.

De acordo com Oliva, que é representante de base do Sindijus há mais de dez anos, acontecia um café da manhã em homenagem ao novo desembargador, que esteve à frente da Vara cerca de 20 anos. “Tudo transcorria dentro da normalidade. O ambiente era de alegria. Quando o juiz titular chegou à Secretaria Judicial, eu o cumprimentei e disse que estávamos todos felizes por ele alcançar a desembargadoria. Durante a ceia, ele ainda brincou comigo com relação a fase ruim do meu time de futebol”.

Mas não demorou muito para que as coisas mudassem. Ao ir embora, e receber os cumprimentos do colega técnico judiciário, Félix se transformou. Na descrição do representante de base, ele pareceu tomado pela ira e esboçou uma reação descontrolada, desnecessária e desproporcional diante de uma dezena de pessoas que estavam na sala: o juiz substituto, o escrivão, assessoras, estagiários, terceirizados e outros técnicos.

“Ele já estava se dirigindo para a porta de saída do cartório quando eu fui cumprimentá-lo. Disse: 'Boa sorte na nova empreitada, doutor Gílson! Apesar de estarmos em lados opostos'. Nisso, o novo desembargador, mudou a linguagem corporal e feição para uma forma agressiva. Daí, me interrompeu abruptamente”, descreve Oliva. A partir daí sucederam-se diversas declarações que causaram mal-estar.

Lucas narra que Félix começou a falar alto e questionou o que ele queria dizer com ‘lados opostos’. “Expliquei, já intimidado, percebendo a alteração repentina, que ele agora é desembargador do TJSE e eu defendo os interesses dos trabalhadores junto ao Sindijus”, explicou. A partir daí, a atitude do novo desembargador escalou. “Ele começou a gritar ‘e eu sou vagabundo? E eu sou vagabundo?’. Eu respondi que claro que não. Nesse momento, já estava sem reação”.

E o pesadelo continua. Oliva conta que o desembargador Félix continuou com um tom de voz alto, áspero e descortês; e começou a elencar críticas à política sindical do Sindijus. “Vocês fazem chacota do Tribunal colocando uma vaca na frente do Palácio [realizado há mais de uma década]. Esse sectarismo de vocês não vai levar a lugar nenhum, vocês pensam que a maioria dos servidores apoiam vocês? Agora vocês querem ser analista, eu sou contra”, relata o servidor agredido.

Não bastasse o ataque à liberdade sindical, direito consagrado na Constituição Federal de 1988, o novo desembargador finaliza se autoproclamando inimigo do representante de base do Sindijus no Fóruns Integrados II. “A partir de hoje você tem um inimigo”, bradou Gilson Félix. Insatisfeito e algo ameaçador, repetiu ao deixar a secretaria judicial: “Você conseguiu um inimigo”, deixando as pessoas sem compreender a situação.

De acordo com o servidor sindicalista, várias pessoas presenciaram a cena. A reação de Oliva diante das declarações de Félix, quando estavam face a face, foi de absoluto choque. “Eu não esperava, estava com o espírito desarmado, amigável, solto; o espírito de quem não conta com qualquer reação violenta, de ira. Fiquei paralisado”, descreveu.

Alerta

Para o coordenador geral do Sindijus, Jones Ribeiro, o fato é um alerta. “É impressionante que em pleno 2022 haja posturas como essas. Na estrutura do Judiciário, um desembargador também exerce a função de administração, ainda mais num estado pequeno como o de Sergipe. Os 13 desembargadores locais, portanto, representam, ainda que simbolicamente apenas, os nossos ‘patrões’ e, no modo de produção capitalista, os patrões têm interesses diferentes dos trabalhadores. O companheiro Lucas Oliva não está só”, garantiu.