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Retaliação: Corte de ponto de dias trabalhados em home office gera indignação nos servidores do TJSE

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Ao abrir seus contracheques do último mês trabalhado, os servidores que aderiram à greve sanitária foram retaliados com corte de ponto, que chegou a mais da metade do vencimento salarial de alguns trabalhadores, representando mais de 30% do salário total bruto. Nestes casos, foram 19 dias de salário cortados.

“A punição dos servidores e servidoras por defenderem a própria saúde, a de seus colegas de trabalho, familiares e a população sergipana foi o corte de ponto”, lamentou Alexandre Rollemberg, coordenador do Sindijus, lembrando que a greve se deu num momento em que a insegurança e o medo tomavam conta dos servidores, já que Sergipe apresentava os mais altos índices de contaminação e mortes: 60.479 e 1.489, respectivamente.

Lusivânia Borges, analista judiciária do 3º. Núcleo do Tribunal de Justiça de Sergipe (TJSE), conta que apesar do impacto financeiro dos cortes ter sido significativo, o emocional foi ainda maior. O sentimento de desamparo promovido pela política de diferenciações e descompromisso da gestão do TJSE com a integridade da saúde dos servidores prejudicou o rendimento do trabalho desempenhado.

A indignação com o corte de ponto foi ainda maior por se tratar de uma greve sanitária: ou seja, uma greve em que as atividades não foram paralisadas, mas foram realizadas regime de home office. “Nós permanecemos trabalhando nos 19 dias em que tivemos os salários cortados. Neste período, não estava prevista a realização de audiências presenciais, nem atendimento ao público. Tivemos nossos salários cortados pela adesão a uma greve que não causou nenhum prejuízo à população”, lamentou Lusivânia.

Ela acrescenta que tem sido registrados diversos casos de afastamento de servidores pelo adoecimento não apenas físico, mas psicológico. “Se nosso emocional não está bem, fica difícil. Nós lidamos com decisões que vão afetar profundamente a vida dos usuários. São pessoas ali. Esta situação tem deixado os servidores vulneráveis não apenas às doenças físicas, como a COVID-19, mas também às emocionais”, completou.

Dois pesos, duas medidas

“A retaliação e os cortes salariais só valem para os servidores. Os juízes e desembargadores permanecem protegidos: não registram ponto, não tiveram cortes salariais, e muito menos estão sob risco de contaminação, já que eles permanecem, desde o início da pandemia trabalhando de suas casas”, denuncia o coordenador geral do Sindijus, Jones Ribeiro.

“A minha vida e da minha família valem menos que a vida de um juiz? Apesar de saber que a resposta para esta pergunta é ‘não’, o Tribunal de Justiça tenta me convencer todos os dias que eu tenho que sair para trabalhar e os magistrados não, que a resposta para ela é sim”, avaliou Lusivânia.

Vidas ou números?

Lusivânia conta que se sentiu desamparada e desrespeitada pelo TJSE. “Eu fico me perguntando o que é que eu represento para o Tribunal. Somos apenas ‘fazedores de laudos e procedimentos’? Nosso valor é relativo somente aos números que produzimos? O trabalho anterior para que nós cheguemos ao resultado final, que é o laudo, não é percebido. Não somos máquinas, somos pessoas, cidadãos”, desabafa a analista, lamentando a falta de sensibilidade do Tribunal de Justiça no momento da retomada das atividades presenciais e do corte de ponto dos servidores que aderiram à greve.