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Salário-mínimo não acompanha aumento da cesta básica no Brasil

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Enquanto o preço da cesta básica aumenta, o país tem mais de 33 milhões de pessoas em situação de fome. O Observatório do Terceiro Setor entrevistou o diretor-executivo da Ação da Cidadania, Rodrigo Afonso, para compreender o papel da sociedade civil no combate à fome

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O preço da cesta básica aumentou em todas as 17 capitais que fazem parte da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), e o salário da população brasileira não tem acompanhado o aumento dos preços.

Oito dos 13 produtos que compõem a cesta básica registraram aumento em 2022. Enquanto os alimentos ficaram 41,5% mais caros, a renda média subiu somente 19,7% em três anos. Como resultado, metade das famílias brasileiras estão em situação de insegurança alimentar, e a fome atinge mais de 33 milhões de pessoas no país.

Em entrevista para o Observatório do Terceiro Setor, Rodrigo Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania, destaca as consequências que este cenário apresenta para a população mais pobre. “A grande maioria dessa população gasta praticamente todo dinheiro que recebe para comprar alimentos. Ela vai cada vez mais se precarizando na saúde, as crianças acabam não indo à escola, não indo para o médico tomar as vacinas, e assim vai você vai criando uma massa de população que está totalmente à margem da sociedade”

Em 2019, cerca de 43% do salário-mínimo era destinado a compra das cestas básicas. Já em 2022, a proporção subiu para 58,78%. Os números foram analisados pelo g1, a partir de dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

O maior valor entre as 17 cidades que o Dieese analisa foi registrado em São Paulo. Uma única cesta básica na capital paulista custa R$ 791,29. Por outro lado, o valor da cesta em Aracaju, capital de Sergipe, é de R$ 521,05. Para Rodrigo, o Brasil precisa investir na produção de pequenos agricultores.

“É preciso priorizar os subsídios para que produtores possam produzir alimentos que nós comemos. Esses pequenos produtores cada vez com menos apoio acabam não produzindo esses alimentos, então começa a faltar e e ter menos produção, levando cada vez mais ao encarecimento desses itens”, explica.

A Ação da Cidadania é uma organização da sociedade civil que promove o acesso à alimentação em todos os estados brasileiros e, nos últimos seis anos, atuou em emergência para levar alimentos a milhares de pessoas. Embora faça parte da área de atuação da entidade, Rodrigo afirma que alimentar a população não deveria ser uma obrigação do terceiro setor.

“Estamos participando de debate junto com o governo, é um novo papel da sociedade civil, um papel de transição desse modelo anterior, porque não é instalar o dedo está tudo resolvido, né? Precisamos continuar atuando na emergência e aos poucos passar essa responsabilidade para os órgãos públicos. A partir daí, começar a fazer o que chamamos do controle social, ou seja, a sociedade civil atuante na cobrança dos atores públicos para aplicação da legislação”.

Todos os programas e atividades da Ação da Cidadania, relacionadas à doações ou incentivo da criação e cumprimento de leis voltadas a garantia da segurança alimentar, estão diretamente alinhadas ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 da Agenda 2030 da ONU, uma meta que promove o combate à fome.



Fonte: Observatório do 3º Setor