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Venda de férias de juízes prova que 60 dias de repouso é um escracho

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Os juízes usufruem de dois meses de férias por ano. A lógica desse privilégio é como o fenômeno paranormal. Os magistrados juram que existe. Mas ver mesmo o brasileiro que financia o mimo nunca viu. Dias Toffoli conseguiu deixar a coisa ainda mais ilógica.

Presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, Toffoli ordenou aos tribunais que comprem 20 dias das férias dos magistrados que quiserem fazer ao país o favor de reduzir o ócio anual para "apenas" 40 dias. A ordem de Toffoli é um escracho a serviço do esbulho.

Dizia-se que os juízes precisam de 60 dias de repouso porque ralam como mouros e ainda levam trabalho para casa. O despacho de Toffoli é um escracho porque a conversão obrigatória de 20 dias das férias dos doutores em dinheiro é evidência de que os dois meses de repouso são desnecessários.

O impacto orçamentário será "baixíssimo", alega Toffoli. Ele surfa o coronavírus para sustentar que o home office provocado pela pandemia resultou em redução de despesas. O lero-lero tem cara de esbulho porque expõe o lado mais delicioso de um privilégio: o direito de torrar o dinheiro alheio como se fosse verba grátis.


Num cenário de normalidade, as férias de 60 dias dos magistrados já seriam inaceitáveis. A coisa se torna escandalosa num ambiente de pandemia em que mais de 30 milhões de brasileiros ralam na informalidade, sem direitos trabalhistas, e quase 13 milhões de patrícios desfrutam das férias compulsórias do desemprego.


Dizer que os juízes brasileiros perderam o contato com as pessoas que lhes pagam os salários é muito pouco para traduzir a alienação. Na verdade, os doutores desconectaram-se da realidade.


* Fonte: Coluna Josias de Souza – UOL